quinta-feira, julho 29, 2004

Fogos, Política e Madonna.


"De cortar o coração" é uma expressão que a minha avó ainda hoje usa. É analfabeta a minha avó e nem sequer sabe que é uma "expressão" aquilo que diz mas di-lo com a despreocupação de quem já viveu o suficiente para estar convicta de que o que sabe lhe chega. Di-lo com o pesar de uma vida, como se o que dissesse significasse todo o sofrimento que um coração pode suportar, significasse o limiar que antecede a desistência, aquele momento preciso em que o sentimos o coração tão apertado dentro do peito que parece querer saltar do peito tão descontroladamente como se de um espirro se tratasse. É isto que a minha avó que, felizmente, ainda diz que algo é "de cortar o coração" quer dizer quando o diz. É assim que assisto às imagens e aos testemunhos "colados" em fáceis documentários vistos à hora das refeições nos quais o fogo é personagem principal. São "de cortar o coração" as imagens de um Portugal verde que depois de uma rompante onda laranja se torna preto. São "de cortar o coração" as lágrimas que correm dos olhos desalmados das vitimas de um descontrolado ladrão que tudo lhes usurpa.

Não gastarei tempo com referências despropositadas a ficções, suposições e/ou comparações cinematográficas, limitando-me aos limites do possível e do quase matemático pensando desta forma estarem reunidas as condições necessárias para dar aso à comparação. Tudo indica que em situação de zaragata entre dois grupos e partindo do pressuposto de que a forma de luta é análoga, presume-se que o grupo que goza de maior número de elementos ganha a luta. Assim se aprova um programa de governo e uma moção de confiança e se reprovam as moções de rejeição.

Não bastava o calor do verão, as altas temperaturas fruto da combustão dos montes e vales e o actual raivoso ardor político. Isto tudo não bastava. Faltava a febre. Sim, escrevi bem faltava, já não falta. Anda à solta e está a atacar todos os discípulos da Pop de Madonna (desculpem, de Esther como se chama agora e depois das incursões ao mundo da cabala). Está tudo doido e nem o finca pé da Igreja Maná impediu que o concerto não se realizasse. A única diferença é que o dia 12 é trocado pelo 13 e muitos são os que a partir de amanhã poderão comprar os bilhetes para ver a sua musa. Estará o leitor a perguntar-se porque me preocupo com este súbito surto de febre e terá toda a legitimidade para o fazer contudo não terminará a leitura do texto sem a razão. O problema é que a febre atinge quem partilha comigo o tecto e acho que já eu estou a sentir os sintomas...

Sem comentários: