quinta-feira, março 09, 2006
cá estamos
Olhara para a janela do escritório uma última vez. Era a primeira vez que a via daquela maneira. Acabara de receber um telefonema da mãe. Mesmo estando três casas acima da sua, resolveu dar-lhe notícia pelo ríspido aparelho. “O teu pai aceitou assinar”. Desligou. Os olhos encheram-se de um fluido estranho. Reparou, pela primeira vez, que a janela dividia a meio o prédio do outro lado da rua, tal qual a anunciada assinatura dividiria três vidas. De relance, pensou nos trinta e dois anos passados. Escorregou-lhe uma gota pelo rosto. Fez face a outra quando reparou que o colega o observava. Pegou na caneta, olhou para o papel. Justificava agora os trocos que recebia no final do mês, no mais credível faz de conta que conseguiria algum dia simular. Não se atreveu a levantar a cabeça quando ouviu um polido Está tudo bem? Não queria correr o risco de ser traído por outra lágrima que inadvertidamente lhe percorresse o rosto. Cá estamos!
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