sexta-feira, abril 07, 2006

vivre sans âme...


Faltava-lhe o ar. Não alucinava. Era natural aquele abafado em seu redor. Nunca, nem num pior pesadelo, lhe tinha passado pela cabeça que a sua vida seria tão madrasta. Mas que raio. Que teria feito de tão mal para que lhe calhasse tal desgraça em sorte. Em casa o pesadelo. O marido vegetava. Diambulava num mundo próprio. No trabalho, tirando uma colega e amiga que tinha que ocultar, não tinha mais ninguém. Sismava que, até com essa era enganado. A desculpa era a doença. Tudo o que fazia era desculpável. Era doente. Que raio. Não tinha culpa da doença do benfiquiista definhado com o qual tinha assinado o tal contrato em que as clausulas enumeravam longamente em votos de felicidade, de confiança, de amor eterno e respeito e compreensão e tudo o que é - ou não - suportável aos olhos de qualquer pessoal dita normal. Cumpria o contrato à risca. mesmo que isso lhe custasse uma vida outra que não aquela. O desconhecido de algo que não se sabe como é seria bem melhor que o inferno que vivia. Não era católica mas sabia bem a noção de inferno. Toda a sua vida era o lado prático desse conceito que acreditava, teria sido inventado para intimidar as mentes fracas e não - nunca - para ser experienciado. Estava enganada. O inferno existia. Mas pior que isso era um respeito pelo contrato que, os mesmos do conceito, tinham também inventado. Há pessoas com uma grande força interior. Mesmo que isso as destrua.

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