segunda-feira, março 01, 2004

Oscars Vs. Manéis

Claro que não poderia deixar passar esta oportunidade para fazer um pouco de corte e costura.
Não há entrega dos Oscars sem a habitual passadeira vermelha e sem a tradicional pindériquice, mas disso falarei mais adiante. Isto realmente arrepia-me. Já estou a imaginar uma entrega qualquer de prémios em Portugal. Peguemos num caso ao calhas. Entrega dos “Manéis” na aldeia de Corticeiro de Cima. Estes prémios visam galardoar o que de melhor se faz na agricultura na região da Bairrada. Os nomeados para os prémios foram anunciados pelo padre na missa do último domingo e contemplam as seguintes categorias:

Melhor agricultor
Melhor tractorista
Melhor cavador de batatas
Melhor “mulher a dias com pior poder económico”
Melhor “agricultor que mais explora os empregados”
Mais rápido ensacador de batatas maneta
Melhor “sai daí se não passo-te com o tractor por cima”
Melhor “quanto mais me pagas mais trabalharei para ti”
Mais rápido transportador de sacos de batatas às costas

Já estou a ver, milhares de pessoas – mais ou menos 40 o que para a aldeia já é o fim do mundo com agitação, juntas no largo da capela de Corticeiro de Cima. O padre pronto para dar o consentimento para que a cerimónia comece e aí começam a chegar as estrelas à porta do centro paroquial, onde se vai passar toda a cerimónia. Uma passadeira vermelha está colocada e vai do átrio da capela até ao centro paroquial. São 7.30 da tarde e todo o evento vai ser transmitido pela Rádio Auri-Negra que está no terreno desde as 3 da tarde para preparar o microfone e o gravador- únicos meios disponíveis para a cobertura do grande evento. Mas continuando... Chega os primeiros agricultores que não estão nomeados, avaliam-se a marca das botas de borracha, o número de remendos das calças, as boinas, e alguns vão chegando com as enxadas, os ancinhos e as pás, assim como outros adereços dignos da mais fina flor do design agrícola. Ao órgão José Barreira toca o tema “eu tenho dois amores” o coro da igreja canta uma versão da música que além de ser o hino é também a única que está ensaiada e que se chama eu tenho dois tractores.
Chegam enfim o primeiro casal que trás calcado botas de borracha da loja de ferragens Joaquim, ferro e fogo, Lda, trás umas calças sem remendos do Asdrubal, alfaiate da terra, a camisa que comprou no mercado no domingo passado. O perfume é francês um Enxofre au Naturel produção caseira. A esposa não interessa que nestas coisas as mulheres não têm nada que meter o bedelho. Bem e a partir daqui já não vale a pena contar pois já perceberam o processo. Agora é só imaginar a frase: E o Manel para melhor “sai daí senão passo-te com o tractor por cima" vai para... e foram todos entregues ao Sr. João (de) Cruz que nem sequer estava nomeado mas que empregava quase toda a gente da aldeia e que tinha dito que se não ganhasse todos os Manéis punha “toda a gente no olho da rua”. A organização ainda lhe perguntou se queria mesmo o Manel para melhor “mulher a dias com pior poder económico” a resposta foi peremptória e mesmo esse o magano arrecadou.

E pronto, já está! Se tiveram paciência para ler tudo, espero que comentem se não... Bem, se não leram não vale a pena estar a ralar-me!

Para quem foi dormir mais cedo, fica aqui tudo sobre a entrega das estatuetas douradas.

                                                                                                            

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